Gente Digna

24/06/2012 14:28

 

Londrina, 10 de junho de 2.012
 
Querido pai,
 
        Existe muita gente digna neste mundo. Pessoas que merecem o maior respeito e consideração por trazerem significativa contribuição para a sociedade. Gente que inspira a ponto de desejarmos imitá-los, sem perder, é claro, nossa própria identidade. Gente que gosta de gente. Gente que se importa. Isso mesmo, gente que dá importância a outros e, por isso, ganha importância de outros.
        Certamente a lista é grande. Permita-me citar alguns. Vou começar com algumas mulheres: Tawakkul Karman, Ellen Johnson Sirleaf e Leymah Gbowee. Ou então alguns homens como Tomas Tranströmer, Thomas J. Sargent e Christopher A. Sims, Daniel Shechtman, Saul Perlmutter, Brian P. Schmidt ou Adam G. Riess. Você os conhece? Sabe quem são essas pessoas? O que elas têm em comum entre si? Fique tranquilo, pois eu também não as conheço. Todas foram ganhadoras do Prêmio Nobel no ano passado, em 2.011. Nobel da Paz, de Literatura, de Química, de Física, ou mesmo ganhadores de Prêmio de Economia. Pessoas que receberam honra porque honraram a humanidade de alguma forma.
        Quando me pergunto, então, quem são as pessoas que mais tem influenciado minha vida, posso cometer o engano de citar líderes que se destacaram na sociedade, ou que marcaram demasiadamente a história da humanidade. Sem qualquer demérito a estes que pertencem a uma lista interminável de gente relevante, a verdade é que não os conheci pessoalmente. Nunca conversei, perguntei, ou ouvi diretamente essas pessoas. Por isso, meu modo de ver, sentir, perceber e interpretar o mundo e as circunstâncias ao redor têm pouca relação direta com essas pessoas.
        Consciente, ou inconscientemente, recebi a influência de gente de muito perto. Perto o suficiente para ouvir seus sons não verbais, sentir seu cheiro, tocar suas mãos calejadas, olhar sua pele tão próximo a ponto de perceber detalhes dos traços que a vida foi acrescentando. Sim, meus hábitos, valores, modo de pensar e agir receberam influência de pessoas com quem convivi, falei, ouvi, discuti, briguei, abracei, amei.  
        Somos quem somos pela somatória de uma infinidade de influências que recebemos. Por quem, afinal, queremos nos deixar influenciar? Temos lucidez e coragem para romper com algumas influências, ou nos entregar a outras?
        Muito consciente disso, há quase dois mil anos atrás, o apóstolo Paulo fez a afirmação desafiadora, talvez até intrigante, quando disse: Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo. E isso ele não falou só uma vez, nem somente para a mesma pessoa. Falou para seus irmãos e amigos da cidade de Corinto (1 Coríntios 4.16; 11.1), da cidade de Éfeso (Efésios 5.1), da cidade de Filipos (Filipenses 3.17). Para os irmãos da cidade de Tessalônica falou em duas diferentes cartas (1 Tessalonicenses 1.6; 2.14; 2 Tessalonicenses 3.7, 9). Estaria sendo orgulhoso ou arrogante? Não vejo assim. Parece-me mais que, ao fazer essa afirmação, trazia para si responsabilidade e peso que pouca gente quer assumir. Sabia que, de fato, um líder não é quem tem um cargo ou posição. Um líder é aquele que conduz outras pessoas a uma direção. É alguém que influencia, quer seja para um bom caminho, ou para um mal caminho.
        Aliás, vivemos em meio a uma grande crise de pessoas que sejam dignas de ser imitadas. Muitos líderes, que até tem projeção, falam, mas não vivem, tem a aparência, mas não tem consistência. Ocupam cargos e posições de projeção, mas não honram a confiança que lhes foi depositada. Não são inteiros, completos, íntegros. Falham! E falham muito. Falham, porque também não tiveram referências. Por isso inventam, simulam, dissimulam, trapaceiam. Enganam a outros, mas também a si mesmos.
        Sabedor da frágil, corrupta e enganosa natureza humana, o apóstolo Paulo traz diante de si uma firme referência: Cristo Jesus. Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo. Seus olhos se voltam para quem é a imagem do Deus invisível, a exata expressão de Deus Pai. Fixa sua mente e coração naquele em quem não há corrupção, nem mácula. Diz em alto e bom som: sou imitador de Cristo a quem conheço! Como quem diz: olhem para mim naquilo que pareço com Cristo, e me imitem. Isso seria suficiente para uma revolução social. Olharmos um ao outro naquilo que parecemos com Cristo e nos deixarmos mudar, transformar, reciclar, reinventar. Assim é como o cristianismo foi transmitido de geração em geração. Enganam-se aqueles que pensam que o cristianismo perpetua-se pelas instituições. De jeito nenhum. Aliás, as instituições atrapalham. O jeito que Deus escolheu para transmitir-se em Cristo foi um a um, de boca em boca, de pessoa a pessoa, de vida em vida, do Cristo que habita em um para o outro, do Cristo que habita no outro para o um.
        Quando olho para alguém que se parece com Cristo, naquilo que se parece com Cristo, tenho referência segura. Suas pegadas me levam a terra firme, terreno sólido, lugar de equilíbrio e alegria.
        Seu casamento é admirável. Aliás, não há como falar de Elias sem falar de Leontina. Mulher meiga, companheira, amiga, pacificadora, intercessora, confidente, confiável. Mulher cheia do caráter de Cristo. Dois que se tornaram um. Mistura refinada pela vida, polida nas adversidades, aprimorada nas alegrias. Nunca os vi brigando. Sempre alcançaram o caminho da conciliação. Assim como Cristo foi fiel à sua noiva, você, meu pai, tem sido fiel à sua amada. Nisso quero imitá-lo.
        Seu relacionamento com seus filhos foi sempre marcado por carinho e afeição. Cumpriu graciosamente seu papel de provedor financeiro, emocional e espiritual. Deixou-nos livres para nossas escolhas, mas, sempre atento e interessado, esteve disponível para nos aconselhar e apoiar. Na minha vida foi marcante. Sua orientação me fez caminhar com segurança na vida profissional e ministerial. Nisso quero imitá-lo.
        Sua fidelidade a Deus é outra marca forte do caráter de Cristo impresso em si. De tudo o que recebeu na vida como salário ou qualquer outro ganho, sempre foi fiel nos dízimos e ofertas. Impressionante esse fato diante de um mundo tão insaciável, mesquinho, avarento, egoísta e desequilibrado nas finanças. Deixou de consumir, mas não de contribuir. Mesmo em momentos de escassez, nunca titubeou. Manteve-se firme em seu propósito de participar do Reino de Deus dedicando parte de suas finanças. Nisso quero imitá-lo.
        Sua fidelidade a Deus o moveu para seu olhar sensível ao outro e uma constante disposição ao serviço. Sabia que servir a Deus significa servir às pessoas. Tem servido irmãos e irmãs por longos anos, em diversas posições, de várias maneiras, sempre com muita dedicação. Dedicou precioso tempo de sua vida, não apenas quando lhe sobrou tempo, mas quando lhe faltava tempo. Serve sem exigir remuneração ou qualquer outro tipo de contrapartida, não por constrangimento ou obrigação, mas de maneira voluntária, amorosa, espontânea. Genuinamente altruísta. Nisso quero imitá-lo.
        Sempre trabalhou e viveu exclusivamente de sua própria renda. Acordava cedo e dava muito duro. Aplicava-se em fazer bons negócios. Empreendeu. Lutou. Diante das mais duras adversidades, não buscava atalhos ou caminhos corrompidos. Antes, aquietava-se e buscava a Deus em oração. Aguardava pacientemente o livramento. Experimentou a provisão e o sustento do Senhor. Nunca faltou nada na mesa de sua família. Poderia ter se aproveitado de clientes desinformados, fornecedores enfraquecidos, ou sócios distraídos. Nunca o fez. Ganhou o que ganhou de maneira justa e honesta. Sua ambição não foi desenfreada, pois tinha Cristo como referência. Nisso quero imitá-lo.
        É impressionante seu jeito de ser e viver. Não faz diferenciação de gente simples e humilde de gente endinheirada e poderosa. Trata a todos com gentileza e respeito. Fala com todos com a mesma disposição. Ouve suas histórias com atenção. Conta seus testemunhos com vigor. Por isso, tornou-se tão confiável, agradável, amigo. Fez e continua fazendo muitos amigos. Sua lista é grande. Na verdade, é o tipo de amigo que todos querem e precisam ter. Um bom amigo na caminhada da vida. Nisso quero imitá-lo.
        Por isso e muito mais, pregou sempre a Cristo com sua vida, às vezes usando palavras. Mesmo não gostando do microfone, ao viver em Cristo, transformou sua vida em um megafone. Sua vida fala mais alto. Fala alto aos filhos, netos, bisnetos e falará aos que ainda estão por vir. Fala de Cristo. Fala de Deus. Fala o que faz. Faz o que fala. Nisso, quero imitá-lo.
        Lembra-se no início da carta quando citei o Prêmio Nobel? Pois bem, Alfred Nobel foi um importante químico e industrial do final do século XIX. Sua invenção, que o tornou muito rico, foi a dinamite. Contudo, ficou muito triste que seu invento estava sendo largamente usado para guerras, gerando muitas mortes. Por engano, quando da morte de seu irmão, um jornal francês noticiou que era ele quem havia morrido. O que o deixou profundamente chocado foi a manchete da matéria: Morre o Mercador da Morte. Era como se ele estivesse lendo seu obituário. Ali ele tomou uma decisão de deixar toda sua herança - na época de 32 milhões de Coroas (hoje algo em torno de U$ 1 bi) - para a criação de uma instituição que recompensaria, a cada ano, pessoas que prestaram grandes serviços à humanidade. Assim nasceu a Fundação Nobel em junho de 1.900. Sua herança e legado foi valorizar aqueles que valorizam a vida, honrar aos que honram.
        História à parte, quero dizer, pai, que você deixou a maior herança que qualquer pessoa poderia sonhar em ter: a fé em Cristo. Com tranquilidade, você pode dizer como o apóstolo Paulo: Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo. Falando assim, não traz a glória para si, mas para o Senhor da Glória!
 
        A Cristo seja, pois, toda a glória!
 
        Pra finalizar, lembro-me do autor de Hebreus, quando disse: não vos torneis indolentes, mas imitadores daqueles que, pela fé e pela longanimidade, herdam as promessas (Hebreus 6.12). Lembrai-vos dos vossos guias, os quais vos pregaram a palavra de Deus; e, considerando atentamente o fim da sua vida, imitai a fé que tiveram (Hebreus 13.7).
 
        Obrigado, de coração.
        De seu filho que quer imitá-lo,
 
Rodolfo Montosa
Fonte: IPI Londrina